Armínio Fraga, principal nome de uma futura equipe econômica de Aécio Neves, disse que "o salário mínimo está muito alto". Em sua fala, argumenta que isso “desequilibra” o cenário econômico atual. Para alcançar esse suposto “equilíbrio”, a ideia subjacente é que aumentar os ganhos dos empresários os levaria a investir mais na produção.
Essa perspectiva demonstra claramente o que um governo do PSDB representa: a renúncia a uma política de valorização dos que estão na base da pirâmide social. Trata-se da eterna — e ideológica — confiança no acúmulo de renda como meio de contribuir para o aumento da riqueza, cuja divisão igualitária é adiada indefinidamente. Em vez de valorizar aqui e agora todos aqueles que precisam do auxílio do Estado para ter uma vida digna, quer-se convencer aos mais pobres que deixar o dinheiro na mão de quem “pode investir” irá fazer com que a produção aumente e que, só então — quando houver suficiente estabilidade, segurança, inflação baixa etc. — poderá haver ganhos “reais” para quem só vive de seu próprio trabalho.
Bastante ao contrário do que apregoa Armínio Fraga — que foi assessor de um mega-investidor especulativo, George Soros —, a política de Lula/Dilma é de favorecimento do poder aquisitivo não apenas dos mais necessitados através do Bolsa-família, mas também de uma consistente valorização do salário mínimo e de classes sociais desprestigiadas, como ficou claro com a aprovação da lei referente às empregadas domésticas. No fim do governo Fernando Henrique Cardoso, o salário mínimo comprava 1,55 cestas básicas e valia 114,04 dólares; hoje, compra 2,18 cestas básicas e vale 295,5 dólares.
A economia deve crescer, sim, mas sempre acompanhada do reconhecimento do valor do trabalho e, nesse mesmo passo, da própria pessoa do trabalhador. Para essa gente, a crença da repartição de um bolo que cresce, mas que demora demais a ser dividido, é apenas mais uma ideologia que querem nos fazer engolir.
Verlaine Freitas - professor do depto. de filosofia - UFMG
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