quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Quem precisa do Estado?


Armínio Fraga, principal nome de uma futura equipe econômica de Aécio Neves, disse que "o salário mínimo está muito alto". Em sua fala, argumenta que isso “desequilibra” o cenário econômico atual. Para alcançar esse suposto “equilíbrio”, a ideia subjacente é que aumentar os ganhos dos empresários os levaria a investir mais na produção. 

Essa perspectiva demonstra claramente o que um governo do PSDB representa: a renúncia a uma política de valorização dos que estão na base da pirâmide social. Trata-se da eterna — e ideológica — confiança no acúmulo de renda como meio de contribuir para o aumento da riqueza, cuja divisão igualitária é adiada indefinidamente. Em vez de valorizar aqui e agora todos aqueles que precisam do auxílio do Estado para ter uma vida digna, quer-se convencer aos mais pobres que deixar o dinheiro na mão de quem “pode investir” irá fazer com que a produção aumente e que, só então — quando houver suficiente estabilidade, segurança, inflação baixa etc. — poderá haver ganhos “reais” para quem só vive de seu próprio trabalho.

Bastante ao contrário do que apregoa Armínio Fraga — que foi assessor de um mega-investidor especulativo, George Soros —, a política de Lula/Dilma é de favorecimento do poder aquisitivo não apenas dos mais necessitados através do Bolsa-família, mas também de uma consistente valorização do salário mínimo e de classes sociais desprestigiadas, como ficou claro com a aprovação da lei referente às empregadas domésticas. No fim do governo Fernando Henrique Cardoso, o salário mínimo comprava 1,55 cestas básicas e valia 114,04 dólares; hoje, compra 2,18 cestas básicas e vale 295,5 dólares.

A economia deve crescer, sim, mas sempre acompanhada do reconhecimento do valor do trabalho e, nesse mesmo passo, da própria pessoa do trabalhador. Para essa gente, a crença da repartição de um bolo que cresce, mas que demora demais a ser dividido, é apenas mais uma ideologia que querem nos fazer engolir.

Verlaine Freitas - professor do depto. de filosofia - UFMG

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