Nordestinos
ignorantes, revira-volta nas eleições baianas e outras pérolas marcaram o 1o.
turno das eleições no Brasil, mas volta e revira que as coisas não são bem
assim...
Depois da declaração de FHC que porque
sou nordestina e voto em Dilma, sou ignorante, achei por bem mostrar que os
baianos, em sua grande maioria, podem ter uma visão política diferente da do
Ex-Presidente, mas nem por isso menos sólida. Depois de décadas de opressão
política que envolveram suspeitas de manipulação de resultados com a corrupção
das antigas urnas de cédula, votos de cabresto, cabides infindáveis de emprego
público e o uso da estrutura pública para satisfação de interesses privados e
para a reprodução da estrutura patriarcal, os baianos puseram fim à era do
carlismo e não há espaço para saudosismos.
Vou contar uma novidade para V. Exa.,
ex-Presidente: não somos mal informados, apenas, diferentemente de muitos dos
que se deixaram iludir pelo “canto da sereia pmdbista”, não sucumbimos ao apelo
midiático anti-petista. Conhecemos essa conversinha e sabemos aquilo que V.
Exa. não disse: a informação no Brasil tem dono! Na Bahia, isso ocorre, pelo
menos, desde a década de 80! Tá duvidando?
A manipulação das pesquisas de opinião
no Estado são históricas e, se a população fosse mal informada sobre a
trajetória política dos seus candidatos ou alienada politicamente, certamente o
uso desses instrumentos poderiam vir a mudar o rumo da história política do
estado. Ao invés de elegermos aqueles que efetivamente escolhemos, teríamos
eleito aqueles escolhidos pelos “donos da informação”:
· Nas
eleições de 2006, a disputa pelo Governo se deu entre Jaques Wagner (PT) que
obteve 3.242.336 (52,89%) e Paulo Souto (PFL) que obteve 2.638.215 (43,03%) dos
votos válidos. Ocorre que a pesquisa de opinião do IBOPE dos dias 26/07, 14/08
e 10/09 apresentou como resultado das intenções de votos para Jaques Wagner
13%, 16% e 28%, respectivamente, enquanto que para Paulo Souto os percentuais
foram 56%, 52% e 50%.
· De
modo ainda mais extraordinário, na repetição da disputa em 2010, Jaques Wagner
obteve 4.101.115 (63,38%) e Paulo Souto obteve 1.033.600 (16,09%) dos votos
válidos. Para as eleições de 2010, a Datafolha divulgou durante toda a corrida
eleitoral intenções de voto 20% aquém do que fora efetivamente recebido pelo
atual governador da Bahia, assim como percentuais acima daquele que
efetivamente fora recebido por Paulo Souto. Somente às vésperas das eleições e
com a opinião pública inalterada acerca da reeleição de Jaques Wagner que o
instituto de pesquisa passou a divulgar dados condizentes com a realidade.
· Agora,
nas eleições de 2014... era uma vez maio de 2014, quando Paulo Souto, segundo o
Ibope tinha 42% das intenções de voto e Rui Costa (PT) tinha 9%, noticiado no
G1 que “o nível de confiança é de 95%. Isso quer dizer que o instituto tem 95%
de certeza de que os resultados obtidos estão dentro da margem de erro (3%)”. Ainda
em 04/10, a TV Bahia, de propriedade da família Magalhães e afiliada à Rede
Globo, divulgou pesquisa Ibope com empate técnico em 46% entre os dois
candidatos, mas no dia 05/10, ao final, eis que Rui Costa obteve 3.558.975
(54%) e Paulo Souto obteve 2.440.409 (37%) dos votos válidos.
A informação tem dono e é sempre
contrária ao PT, mas ainda assim seus candidatos tem conseguido fazer história...
esta sim, verdadeira fonte de informação e que deve ser conhecida por todos. No
âmbito federal, a resposta vem do Laboratório de Estudos de Mídia (UFRJ), que
criou o “manchetômetro” e mostrou catalogando as notícias do jornalismo
brasileiro “a desonestidade da imprensa brasileira”, pois “se o Brasil fosse o que
mostra a imprensa, estaríamos todos mortos de fome” e essas conclusões vem acompanhadas de
outras: “o Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP) da UERJ
demonstra, com seu “manchetômetro” (ver aqui), como os
jornais blindaram Fernando Henrique Cardoso e expuseram Lula da Silva no
passado recente, como tratam desigualmente o governo federal e o governo
paulista, como as notícias sobre Aécio Neves são mais equilibradas do que o
material referente à presidente Dilma Rousseff, bombardeada na proporção de 182
informes negativos para apenas 15 positivos, por exemplo, e como esse
bombardeio se intensifica no período eleitoral”. E como sou bem informada,
principalmente pelos meios autônomos de comunicação nacional e internacional,
sei que 182 X 15 (só no Jornal Nacional foi 82X3) não é porque faltam coisas
positivas a serem ditas sobre o atual governo, mas apenas porque a mídia tem
dono!
Desculpe-me por não ser ignorante FHC e
atribuir um valor de verdade à sua epifania contra os nordestinos, mas, eu,
assim como meus conterrâneos, apenas tivemos a oportunidade de conhecer uma
realidade diferente, livre de discursos generalistas e reacionários que, nas
palavras da Presidente Dilma, não passam de “uma visão
absolutamente preconceituosa e elitista, dizendo que os meus votos são dos
ignorantes e, os dos ilustrados, são deles. É um desrespeito. Como eles não
andam no meio do povo, como eles não dão importância para o povo brasileiro,
eles querem desqualificar o povo brasileiro”. No domingo, veremos o que será do
empate técnico entre Dilma e Aécio!
Paula Freitas Almeida, advogada, mestra em filosofia - UNICAMP.
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